segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Pedal Solitário - 08 de janeiro



Eu precisava ficar um tempo sozinho para refletir sobre muitas coisas e escutar a voz da minha consciência, também conhecida como a fonte suprema de energia divina que reside em mim. Com esse objetivo, decidi então fazer nesse domingo um pedal solitário. Me propus um desafio que, confesso, em um primeiro momento não acreditei que pudesse superá-lo: pedalar 40 km sem descer da bike sob calor e sol fortes. Nunca tinha feito isso, mas acordei com esse propósito e, por algum motivo, decidi levar esse projeto desafiador e intimista adiante. Em alguns momentos a vida nos impõe obstáculos, supostamente intransponíveis por sua dimensão, simplesmente para que tenhamos a certeza que podemos vencê-los, nos tornando mais fortes e maduros para os próximos, fortalecendo assim a nossa fé abalada. Aprendi que a prática do ciclismo pode nos dar preciosas lições de vida, em uma analogia perfeita e harmônica que pode nos ajudar a decifrar e entender a subliminaridade das mensagens que recebemos diariamente e que em sua maioria passam despercebidas.

1 - Algumas subidas, de tão íngremes e extensas, podem nos fazer desanimar, enfraquecendo a nossa fé e a certeza que em algum momento chegarão ao final. Nesse momento nada é melhor que visualizar uma descida e acreditar na nossa força interior;

2 – As decidas tem o efeito prático de revigorar nossas energias, estimulando a área de recompensa do cérebro e nos preparando para os aclives que virão, em um movimento cíclico de continuidade. É sempre importante termos cautela e estarmos atentos nesse momento, onde naturalmente há um excessivo relaxamento (abertura da guarda), excesso de confiança, falta de atenção e, como conseqüência pode haver algum imprevisto;

3 – Nem sempre aquele que te socorre imediatamente após o tombo vai abrir mão de concluir o percurso para levá-lo ao hospital, caso haja comprovadamente essa necessidade. E nessa hora podemos identificar claramente quem valoriza mais o percurso que a companhia;

4 – Esteja sempre preparado para as adversidades. Um pneu furado, uma corrente quebrada ou mesmo uma quantidade insuficiente de água podem fazê-lo acreditar que você não deveria estar ali naquele momento;

5 – Os tombos nos fazem refletir sobre nossa real capacidade de sucesso naquela atividade. Eles são necessários para nos aprimorarmos e entendermos que não existe condução perfeita. Mas feio mesmo não é cair e sim não se levantar;

6 – Existe uma diferença enorme entre percorrer o caminho e conhecer o caminho;

7 – Lama e sujeira devem ser encarados como elementos naturais de alguns percursos;

8 – Muitos podem tentar te derrubar... Alguns podem conseguir. Mas absolutamente ninguém pode tirar de você a capacidade de se levantar e recomeçar;

9 – Muito mais importante que o nível de sua bike é a sua vontade de pedalar;

10 – Numa bifurcação do caminho o grupo pode se dividir. Em alguns casos por opção e em outros por falta de equipamento. Nem sempre existem escolhas a serem feitas, mas acima de tudo é importante saber que independentemente do caminho escolhido, os verdadeiros companheiros estarão bem ao final do percurso. Pode ser que você chegue só ao seu destino. É possível também que restem apenas poucos companheiros, exatamente aqueles que vão te ajudar a desmontar o circo e acompanhá-lo de volta para casa. Guarde bem o nome dessas pessoas...;

O desafio foi concluído com muito desgaste e cansaço. 40,22 km sem parar, sem descer da bike, sem perder a fé... A certeza do poder de superação, aplicável a qualquer contexto da vida, consolidou minha percepção de que não estou sozinho nessa jornada e que as adversidades são mecanismos de Deus para atingir a tão sonhada elevação espiritual um dia, pois sem sombra de dúvidas a força divina conspira para o sucesso de cada ser que se propõe a voltar nesse mundo, sendo a felicidade um subproduto de nossa responsabilidade pelo uso do livre-arbítrio de cada um.

40,22 km;
2h15m07s;
59,0 km/h de velocidade máxima;
17,9 km/h de velocidade média;
1668 calorias executadas sumariamente;
181 bpm foi a freqüência cardíaca máxima;
1 certeza: Definitivamente não estou sozinho;